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sexta-feira, 19 de julho de 2013

Desenhista de Sentimento

                                                         Desenhista de sentimento


                                                                                                                                  Maria Alice Amorim



Oceano primordial, a água é motriz da delicadeza inundada no papel. Metáforas da vida, as ondas cromáticas do desenho espalham leveza sobre a densidade das emoções, das dúvidas do existir. Desenhista de sentimento, a menina vestida de nuvens, etérea, nefelibata, cria microcosmos, "mini love city", e compartilha com o gato de circo a intensidade do espetáculo em espiral. Orvalho, lágrima, nuvem, chuva, raio, onda gota a gota fluem sobre o papel, livre tradução de angústias, dores, alegrias, perguntas, dúvidas, afirmações. “O que você anda sonhando?”, canta o passarinho, e rabisca sobre os nossos ouvidos despretensioso compasso filosófico fingindo-se colagem de teto, parede e flor. “Ei, love you mon amour”, replicam à vida visualidade cheia de viço, desejos em movimento.

Cristal alado, a obcecada sutileza do detalhe gera sinestesias. Sintoniza cenários, tempos, técnicas, linguagens. Aciona prazeres do olho. Cacto redesenha sertão, gato reata afetos, orquídeas nomeiam amor. Vibrações de pequeninos olhos azuis se somam a minúsculos pontos vermelhos, texturas de figurino sincronizando arabescos e emaranhamentos. 
As palavras solfejam alegria, os desenhos levitam sobre tempestades de amor, o negro sussurrando em modo menor sob o vibrato de amarelos e vermelhos acordes. O manejo da aquarela exprime-se na exuberância multicolorida do existir, ao qual certamente também se dirige a declaração sensual da artista: “Te amo”.

Personas habitam as galáxias pictóricas deste lúbrico universo criativo, que se expande mais e mais em maturidade e compartilha campos sutis de inesgotável busca do êxtase amoroso nas múltiplas dimensões do viver, compartilha campos sutis de explosivo ímpeto extravasado nos jogos de armar, no lúdico faz-de-conta que é para criança, no poético acasalamento de palavras e imagens. O mundo onírico plantado no papel evoca a infância, mundo circense, pleno espetáculo cuja representação figurativa é povoada de bichos, de vênus, volutas, pétalas suspensas. Flui a partir do coração, passa pelo coração. Letras, palavras, frases em movimento, corpos dançarinos conspiram amor, flexionam liberdade, indicam o centro do vórtice – "Ainda estou aqui" – fazendo brotar erotismo de cores, formas, volumes dançantes, amores.

Sensíveis seres somos: palíndromo da vida conjugada no plural.


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